Motor 100% a etanol da Stellantis confirma biocombustível como protagonista da mobilidade sustentável
Grupo projeta que o consumo desse biocombustível será mais otimizado por meio dessa tecnologia do que nos motores flex convencionais
Recentemente, uma matéria da plataforma Automotive Business, especializada no setor automotivo e na mobilidade, divulgou uma iniciativa que reafirma o protagonismo do etanol como peça-chave na busca pela mobilidade sustentável. A gigante Stellantis, reconhecida no cenário global, está atualmente embarcando em um projeto que impulsionará o biocombustível a novos patamares.
O projeto inovador, denominado E4, nasceu em 2019, e trata-se de um veículo movido exclusivamente a etanol. Equipado com um turbocompressor, o veículo representa um marco significativo na jornada da Stellantis em direção à descarbonização e à eficiência energética na América do Sul. Antonio Filosa, presidente da Stellantis para a região, confirmou a empreitada durante sua última passagem pelo Brasil.
Determinado em explorar os limites do potencial do etanol, o grupo projeta que o consumo desse biocombustível será mais otimizado por meio dessa nova tecnologia do que nos motores flex convencionais.
Em paralelo ao desenvolvimento do motor movido a etanol, a Stellantis está engajada na criação de um motor híbrido flex, capaz de combinar biocombustíveis com propulsores elétricos.
A indústria automotiva brasileira tem refletido cada vez mais sobre o conceito “do poço à roda”, que considera as emissões de CO2 desde a produção até o uso do veículo. Esse enfoque será integrado na fase 2 do programa Rota 2030 para veículos leves. A meta até 2050 é atingir apenas 32 gramas de CO2 por quilômetro rodado.
Em um cenário onde a infraestrutura para carros elétricos é incipiente e os custos são impeditivos para as massas, a abordagem da Stellantis, e de montadoras como VW e Toyota, de destacar o etanol como uma alternativa mais viável, surge como uma estratégia inteligente e sustentável para promover a mobilidade sustentável no Brasil.
“Elogiamos aqui as decisões da indústria automobilística no Brasil. Os mais recentes anúncios da Stellantis e da Toyota confirmam que as maiores empresas optaram pelo etanol nesse mercado. O etanol no Brasil já demonstrou ser a melhor opção na busca pela mobilidade sustentável. Os combustíveis fósseis do petróleo e do carvão ainda recebem pesados subsídios, que serão substituídos por incentivos nos veículos com menores emissões e maior economia. A opção brasileira deve crescer na Ásia e América Latina, esse é um importante trabalho que vem sendo realizado por este setor”, destaca Edmundo Barbosa, presidente-executivo do Sindalcool-PB.
A Stellantis possui três fábricas no Brasil. Graças aos incentivos fiscais para montadoras instaladas no Nordeste, o grupo instalou uma fábrica da Jeep, no ano de 2015, na cidade de Goiana, em Pernambuco. A fábrica é responsável por produzir modelos de maior valor agregado, como os utilitários esportivos e as picapes.
Entenda como é o plano divulgado pela Stellantis para descarbonização na América do Sul
A Stellantis na América do Sul é parte ativa do plano estratégico de longo prazo Dare Forward 2030 e trabalha para atingir regionalmente as metas de descarbonização. A empresa está concentrada em reduzir e neutralizar as emissões de gases de efeito estufa nas unidades industriais e na cadeia de valor. Nesta rota, a Stellantis busca a múltipla matriz energética, a fim de aproveitar as vantagens competitivas regionais para tornar a propulsão mais limpa e eficiente. A análise regionalizada mostra que a necessidade de descarbonização do Brasil se dá em uma realidade específica e distinta de outras regiões do planeta.
Na Europa, a necessidade da descarbonização está focada na indústria automotiva e baseada em uma rota tecnológica de eletrificação em função das próprias condições europeias. A matriz energética local tem grande participação dos combustíveis fósseis, o que impõe limitações às opções de descarbonização, levando à opção imediata pela mobilidade eletrificada. O custo financeiro deste caminho é elevado.
A realidade brasileira é muito diferente. A matriz energética é mais sustentável, devido ao uso de biocombustíveis e da geração de energia elétrica por meios renováveis. Esta característica da matriz energética abre para o país um leque de opções de soluções de mobilidade, em condições privilegiadas. O etanol é um forte aliado na redução das emissões de CO2 no Brasil. Sua combinação com a eletrificação pode ser uma alternativa competitiva de transição para a difusão da eletrificação a preços acessíveis, além da capacidade de a empresa atingir as metas de emissões. Quando considerado no conceito well-to-wheel (no caso, do campo à roda), o etanol é altamente eficiente quanto às emissões, porque a cana-de-açúcar em seu ciclo de desenvolvimento vegetal absorve de 70% a 80% do CO2 liberado na produção e queima do etanol combustível.
O Brasil tem quatro décadas de acúmulo de tecnologia nesta área e intensificar o uso do etanol é uma decisão inteligente, que leva em conta a imensa plataforma produtiva, logística e de distribuição já implantada no país, além da frota flex circulante. A combinação do etanol com a eletrificação em motores híbridos é uma alternativa adequada para o país como transição para uma mobilidade sustentável de baixo carbono, pois permitirá o acesso de faixas maiores do mercado consumidor a tecnologias de baixa emissão.
Os elétricos, embora sejam eficientes no processo de descarbonização, têm um custo muito elevado, que impede sua aquisição por amplas faixas de consumidores. A solução 100% elétrica ainda não tem a escala necessária e precisa ser desenvolvida e aprimorada, para que possa entrar como alternativa de massa em uma estratégia efetiva de descarbonização em um país em desenvolvimento com características de renda como as do Brasil. Está claro que a propulsão elétrica é a tendência dominante do setor automotivo mundial e a Stellantis, como uma das maiores empresas globais do setor, avança nesta direção. No Brasil, a empresa já oferece a maior gama de modelos elétricos e eletrificados, abrangendo carros de passeio e veículos comerciais leves: Fiat 500e, Peugeot e-208GT, Peugeot e-2008, os furgões Citroën Ë-Jumpy, o Peugeot e-Expert e o Fiat e-Scudo, e o Jeep Compass 4xe híbrido plug-in.
Não se trata, portanto, de contrapor descarbonização e eletrificação. A descarbonização é o resultado desejado e necessário, enquanto a eletrificação é um dos caminhos para se alcançar a descarbonização da mobilidade. O emprego do etanol combinado com eletrificação é o caminho mais rápido e viável do ponto de vista social, econômico e ambiental para uma crescente eletrificação da frota brasileira.