Inter sufoca a altitude, evidencia “casca” de Copa e volta ao Brasil com fôlego rumo às semis

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Um time que sonha em ser campeão muitas vezes se molda às adversidades. O Inter enfrentou um cenário desfavorável de forma madura, inteligente e evidenciou a mentalidade de um time que parece forjado a disputar copas. Ficou claro que boas estratégias também são acompanhadas de pitadas de sorte. A equipe de Coudet amadurece, cria “casca” e encorpa no sonho do tri da América.

A vitória por 1 a 0, com gol de Valencia, foi a primeira do clube gaúcho em La Paz. Um feito histórico muito comemorado no vestiário pelo contexto. Altitude, estádio lotado e um adversário embalado por números incontestáveis no temido Hernando Siles. O Colorado mostrou “caráter”, como exaltou Rochet, e está a um empate de voltar a uma semifinal de Libertadores oito anos depois.

O goleiro uruguaio, alías, foi protagonista novamente. Defesas difíceis, catimba, liderança. O resultado também passa pela partida extraclasse de Alan Patrick e pelo oportunismo de Enner. Uma bola e um gol. O equatoriano novamente foi fatal, como fora em Buenos Aires. Aránguiz reteve a bola e distribuiu o jogo. O Inter conseguiu aliar qualidade e experiência e sufocar a altitude.

– Cada fase vamos amadurecendo. Libertadores exige essa casca, essa experiência. Com nossa estratégia, com toda dificuldade que sabíamos que íamos enfrentar aqui, soubemos sofrer e sabíamos que teríamos a nossa oportunidade. Demos um passo importante, mas não tem nada definido – disse o capitão Alan Patrick.

O otimismo estava no semblante dos bolivianos. O Ministério do Trabalho da Bolívia liberou do expediente quem tivesse ingresso para o jogo. Ironicamente em uma cidade onde o ar falta, La Paz respirava Libertadores. A uma hora da partida, mais de 30 mil já estavam nas arquibancadas e berravam para os céus: “Si, se puede!”. Antes ainda, os colorados foram recebidos com gritos irônicos: “Altitude, ar, oxigênio”.

A formação do time traria surpresas. Nico Hernández foi escolhido para ser o terceiro zagueiro e fechar uma linha de cinco defensores. Mauricio foi para o banco. O 5-4-1 confirmou o que todos sabiam de antemão: Coudet mudaria a forma do time jogar por conta dos 3,6 mil metros acima do nível do mar.

Chacho adaptou a equipe ao jogo. O Bolívar tentou impor uma blitz no início, controlada pela compactação entre meio e defesa. A estratégia era clara: linhas baixas, valorizar a bola e acelerar na hora certa. Mas também era preciso atenção pelo alto. Em uma sobra de bola parada, Francisco da Costa bateu cruzado, a bola desviou em Mercado e Rochet operou um milagre.

Os zagueiros tiveram muito trabalho. Cederam finalizações, é verdade, e contaram com a sorte. Mas a postura do Inter era se defender sem nenhuma vergonha. E o Colorado assim fez durante os 90 minutos. Coudet congestionou o meio com Vitão, Nico e Mercado somados a Johnny. O trio cansou de afastar bolas.

Alan Patrick chegou a ser dúvida por nunca ter jogado na altitude. Em campo, a cada toque na bola, demonstrava estar à vontade e pra lá de inspirado. Ele recebeu de Bustos, arrancou e acionou Valencia, que dominou, tirou o zagueiro e mandou cruzado para abrir o placar, aos 15. O camisa 10 chegou a sete participações diretas em nove jogos no torneio – quatro gols e três assistências.

A torcida do Bolívar não diminuiu o ritmo. Em campo, os bolivianos apelaram para o seu já conhecido repertório: chutes de fora da área e chuveirinho. A cada bola na área era um frio na barriga. Se por baixo a defesa se portava bem, por cima vazava. Foram, ao menos, duas situações claras para o empate. O time da casa cruzou 30 bolas no 1º tempo.

O Inter voltou do intervalo disposto a valorizar a posse. A partida esteve sob controle até meados da segunda etapa. O filme se repetia. Pancadas de longe e bola na área uma atrás da outra. Tamanha insistência quase levou ao empate. Ronnie Fernández e Francisco da Costa acertaram o poste.

Coudet fechou o time com Igor Gomes no lugar de Alan Patrick, adiantando Aránguiz. A força do grupo foi essencial para manter a qualidade e dar novo gás ao time. Gabriel, Bruno Henrique, De Pena e Luiz Adriano entraram e ajudaram a confirmar uma vitória madura em La Paz.

– Acho que esse é o caminho, não estamos falando da boca para fora, estamos falando com resultado e performance principalmente na Copa. A equipe está fortalecida e criando casca para poder chegar e vencer. Demos um grande passo, pela dificuldade do jogo e os números do Bolívar dos últimos anos aqui – comentou Gabriel na zona mista do estádio.

– Aqui tem que ter um pouco de todas as qualidades. Acho que fizemos um jogo bastante inteligente, sabíamos que íamos sofrer. Abrimos uma vantagem e é muito difícil jogar na altitude, também tivemos um pouco de sorte nas bolas na trave, é o futebol. Conseguimos o mais difícil que era sair com a vantagem daqui – destacou Rochet na saída de campo.

O Inter que retorna a Porto Alegre nesta quarta-feira volta mais forte, mais cascudo e mais próximo da semifinal da Libertadores. Porém, nem só de copa se vive o clube. É preciso reagir imediatamente no Brasileirão. O próximo duelo será no sábado, contra o Flamengo, no Rio.

Globo Esporte

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